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Edição atual desde as 22h57min de 13 de junho de 2017

Autor: Ana Patrícia Rosa, Cristina Ferreira Tavares

Última atualização: 2017/06/13

Palavras-chave: Hiperuricemia, Gota, Artrite



Resumo


A gota é uma doença muito dolorosa e incapacitante. É provocada por uma resposta inflamatória à deposição de cristais de ácido úrico, causando artrite aguda recidivante ou crónica.
É mais frequente nos homens e tem início habitualmente entre os 40 e os 60 anos. A artrite aguda é inicialmente monoarticular e, com frequência, envolve a articulação do primeiro dedo do pé (podagra). Os sintomas incluem dor aguda na articulação que se apresenta avermelhada, quente, tumefacta e extremamente dolorosa ao toque ou com a mobilização. O diagnóstico requer identificação dos cristais no líquido sinovial. O tratamento das crises agudas é feito com fármacos anti-inflamatórios, corticoides ou colchicina. O tratamento profilático deverá ser feito com medicamentos que baixam o ácido úrico, como o alopurinol.
A Gota está associada a um aumento do risco cardiovascular, pelo que é essencial a sua prevenção e o controlo dos restantes fatores de risco.




A gota


A gota é uma doença reumatismal causada por uma resposta inflamatória à deposição de cristais de ácido úrico, nas articulações, mas também em outras localizações. É uma doença muito dolorosa e incapacitante.

Qual é a causa?


A gota ocorre quando os níveis de ácido úrico no sangue se encontram cronicamente elevados acima de 6,8 mg/dl. No entanto, nem todas as pessoas com hiperuricemia têm sintomas de gota e vice-versa.
Alguns dos factores predisponentes para o surgimento das crises são:

  • Sexo masculino
  • Pós-menopausa
  • Fatores genéticos
  • Fatores dietéticos
  • Outras doenças (obesidade, hipertensão arterial, diabetes, psoríase, insuficiência renal crónica)
  • Utilização de fármacos como diuréticos tiazídicos e a aspirina em dose baixa.



Epidemiologia


A gota é mais frequente nos homens e tem início habitualmente entre os 40 e os 60 anos. Raramente afecta as crianças e as mulheres antes da menopausa.
Em Portugal, estima-se que atinja 1.6% da população.

Como se manifesta a gota?


A gota apresenta três fases:

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  1. A crise aguda de gota surge habitualmente com inflamação de apenas uma articulação (avermelhada, quente, inchada e extremamente dolorosa ao toque ou com a mobilização). É uma dor aguda que evolui em horas, com início frequentemente durante a noite. As articulações dos membros inferiores são as mais atingidas, principalmente a do primeiro dedo do pé (podagra), seguindo-se os tornozelos, os joelhos, os punhos, os dedos e os cotovelos. A crise de gota resolve-se espontaneamente após 7 a 10 dias. Fatores anatómicos locais predispõem o atingimento das extremidades, como a elevada concentração de uratos associada a microtrauma repetido da articulação, diminuição da temperatura local e alterações degenerativas prévias da articulação.
  2. O período assintomático que ocorre entre as crises.
  3. A gota tofácea crónica ou artrite gotosa crónica ocorre em doentes com níveis elevados de ácido úrico não tratados durante anos. Caracteriza-se pela presença de tofos gotosos que, a longo prazo, contribuem para a deformidade das articulações. Estes localizam-se tipicamente nas mãos, pés e pavilhões auriculares.



Como se diagnostica a gota?


Apesar dos sintomas e do aspeto da articulação ser muito característica, pode ser necessário fazer uma aspiração do líquido da articulação para confirmar a presença dos cristais de ácido úrico. A radiografia e outros exames de imagem como a ecografia podem também ser importantes.
Os níveis sanguíneos de ácido úrico são muito importantes mas podem estar normais durante as crises e estar elevados em pessoas que nunca tiveram gota, e eventualmente nunca irão ter. Mas servirão para orientar o tratamento futuro. Devem ser obtidos fora da fase aguda da sintomas.

Como se trata a crise de gota?


A alimentação é um aspeto importante do tratamento. Devem ser evitados os alimentos ricos em purinas (carnes, vísceras, marisco e alguns peixes como salmão, truta e sardinhas) e reduzido o consumo de álcool.
No tratamento farmacológico de uma crise de gota em fase aguda são utilizados:

  • Colchicina em doses baixas, que é muito eficaz, mas que se associa a náuseas, vómitos, diarreia e outros efeitos secundários;
  • Anti-inflamatórios reduzem a inflamação e aliviam a dor, sendo muito utilizados;
  • Corticóides, podem ser igualmente úteis;

No tratamento crónico para a hiperuricemia são comumente utilizados os fármacos hipouricemiantes, como o alopurinol, que ajuda a bloquear a formação de ácido úrico e que é importante em doentes que sofrem de crises recorrentes de gota. Se o doente nunca esteve medicado com esta medicação, não a deverá iniciar durante a fase aguda, mas deve mantê-la se já a toma habitualmente.

Como se previne a gota?


A prevenção primária é importante nos indivíduos que nunca tiveram nenhuma crise, mas apresentam fatores de risco. Consiste, essencialmente, na adoção de um estilo de vida saudável:

  • Identificação e correção de causas de hiperuricemia:
    • Perda de peso;
    • Atividade física regular;
    • Redução de alimentos ricos em purinas (carnes, vísceras, marisco e alguns peixes como salmão, truta e sardinhas);
    • Redução do consumo alcoólico, especialmente de cerveja e bebidas brancas;
    • Ingestão de 2 a 3 litros de água por dia;
  • Controlo de fatores de risco cardiovasculares (Hipertensão, Diabetes, Doença renal crónica)
  • Controlar a medicação que possa aumentar os níveis de ácido úrico.



A prevenção secundária dirige-se aos indivíduos que já tiveram algum episódio de gota, ou litíase úrica (pedra nos rins), ou os doentes a fazer quimioterapia oncológica. As medidas higieno-dietéticas são também importantíssimas, mas pouco eficazes, obrigando muitas vezes a ter de recorrer à correção dos níveis de hiperuricemia com medicação apropriada.

Que consequências pode ter?


A gota é uma doença frequentemente subvalorizada pelo fato das suas crises de artrite serem de curta duração, contudo se a hiperuricemia não for corrigida, podem advir graves consequências:

  • As crises tornam-se cada vez mais frequentes e atingem cada vez mais articulações, até que a dor, a inflamação articular e a incapacidade se tornam permanentes, com destruição articular e deformidade.
  • Tofos gotosos podem atingir grandes dimensões e agravar a incapacidade articular, infetar e comprimir nervos ou vasos.
  • A acumulação renal de ácido úrico leva a insuficiência renal e cálculos renais, com risco de morte aumentado.

A Gota está associada a um aumento do risco cardiovascular, independentemente dos níveis de ácido úrico. Numa perspetiva holística não se pode esquecer toda o contexto cardiovascular quando se está perante um problema de gota, e insistir no controlo da hipertensão, dislipidemia e obesidade.

Conclusão


A gota é uma doença muito dolorosa e incapacitante que merece uma abordagem diagnóstica e terapêutica atentas e informadas.
A profilaxia das crises é fundamental, e passa pela informação sobre a doença, as suas medidas de prevenção e manter a adesão à medicação hipouricemiante.

Referências recomendadas



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