Cancro da tiróide

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Autor: Maria Torres, Hugo Martins, Tiago Carreira

Última atualização: 2017/03/30

Palavras-chave: tiroide, cancro da tiroide, nódulos cervicais



Resumo


O cancro da tiroide é raro pois apenas um em cada 20 nódulos da tiroide é cancerígeno, sendo mais frequente nas mulheres (3 em cada 4 casos). Trata-se de uma patologia que tem um comportamento “mais benigno” quando comparado com outros tipos de cancros. A taxa de mortalidade aos 25 anos é de apenas 1%.
A frequência do seu diagnóstico tem triplicado nas últimas três décadas em parte pela maior disponibilidade de meios complementares de diagnóstico, embora tem também sido apontado a maior radiação, os carcinogéneos ambientais, mudanças na dieta, mas a sua mortalidade tem diminuído.
O risco desta doença é maior nas crianças e adolescentes (2%), nos idosos, no sexo masculino, em utentes submetidos a radiação do pescoço durante a infância e em famílias em que há vários parentes com carcinomas da tiroide.




Cancro da tiróide


O cancro da tiroide representa menos do 1% das neoplasias malignas, é mais frequente em mulheres na idade média da vida. Apesar de haver mais casos registados nos últimos anos, a mortalidade tem-se mantido estável.

  • Ca Papilar: o mais frequente, cresce lentamente e propaga-se pela circulação linfática. Tem bom prognóstico e junto com o carcinoma folicular da tiroide representa um 80- 90% do total dos cancros da tiroide.
  • Ca Folicular: o segundo mais frequente, prevalente em zonas com baixo aporte de iodo, a sua extensão a outras partes do corpo como pulmões e ossos é através do sangue, também tem bom prognóstico.
  • Ca Medular: Pouco frequente (5%), 25% destes são hereditários, carateriza-se pela secreção de calcitonina. A forma hereditária apresenta-se em jovens e com mutação no gene RET.
  • Ca Anaplásico: O menos frequente mas também o mais agressivo e de pior prognóstico.



Como se chega ao diagnóstico de cancro da tiróide?


Tiroide anatomia.png

Sinais e sintomas:

a presença de um nódulo no pescoço na região da glândula tiroide é o principal sintoma, muitas vezes de crescimento rápido e acompanhado de rouquidão, sem outras causas aparentes.

Fatores de risco:

Pessoas que foram submetidas a irradiação da cabeça e pescoço na infância, a irradiação para transplante de médula óssea, a história familiar de carcinoma tiroideo ou síndromes familiares associadas com cancro da tiroide (Doença de Cowden, MEN2).

Exame objetivo

centrado na região do pescoço onde pode ser evidente a presença de um nódulo fixo ao tecido adjacente, muitas vezes duro à palpação, de tamanho variável, assim como gânglios palpáveis.

Análises:

Têm pouco valor no diagnóstico de cancro da tiroide exceto casos particulares como o do carcinoma medular da tiroide (doseamento de calcitonina). O doseamento de tiroglobulina é importante no seguimento após cirurgia.

Ecografia da tiroide:

É um método diagnóstico de imagem simples, indolor e o mais importante no estudo da tiroide. Permite identificar nódulos na glândula, avaliar o seu tamanho e localização assim como a existência de características suspeitas (calcificações, hipervascularização, margens irregulares, conteúdo sólido...) que nos orientam sobre o risco de malignidade e junto com o tamanho do nódulo indicam se deve ou não realizar citologia aspirativa. O tamanho do nódulo é muito importante: por princípio, nódulo maiores de 1 cm devem ser avaliados pois têm maior potencial para ser malignos.

Citologia aspirativa:

É uma biópsia feita com uma pequena agulha que vai ser introduzida até ao nódulo para colher uma amostra de tecido que será analisada. É procedimento de eleição, com o melhor custo-benefício em casos suspeitos. É de realização simples e rápida na maior parte dos casos e o seu incómodo é equivalente a uma punção para recolha de análises ao sangue. Podem ser realizadas às cegas ou com controlo de ecografia, o que permite melhorar a precisão do exame.

Cintigrafia tiroidea:

Consiste na administração de uma substância radioativa que permite a distinção entre nódulos não funcionantes ou “frios” e funcionantes ou “quentes”. Os frios têm maior risco de poder ser cancro (10-15% destes são malignos frente a 1-5% dos quentes). Permite também detetar tecido tiroideo que possa estar localizado fora do local habitual (ectópico), recidivas após intervenção cirúrgica assim como a invasão de outros órgãos (metástases).

Marcadores moleculares:

Está a ser estudado o papel de mutações como a BRAFV600E que poderá ser útil no estadiamento e elaboração do plano terapêutico em doentes com cancro da tiroide.



Tratamento


  • Cirurgia
A cirurgia é o tratamento de eleição na maioria dos casos de cancro da tiroide (ou na sua suspeita). Pode-se retirar a glândula toda (tiroidectomia total) ou apenas uma parte (lobectomia). A decisão depende das características próprias do tumor. Quanto maior a cirurgia, mais acentuadas as complicações que podem surgir como o hipotiroidismo (que pode implicar a administração de levotiroxina de substituição para toda a vida), a paralisia das cordas vocais (que provoca rouquidão ou mesmo perda total da voz e implica a realização de terapia da fala) e a hipocalcemia (baixa do cálcio, por lesão das glândulas paratiroides e que pode obrigar a ter de fazer suplementação com cálcio para toda a vida).
  • Iodo radiativo
A administração de isótopos radioativos de Iodo permite eliminar as células cancerígenas que possam ter ficado após a cirurgia. É bem tolerado e provoca poucos efeitos secundários, mas obriga a evitar o contacto com grávidas e crianças de colo durante uns dias, e a evitar a gravidez pelo menos durante 6 meses.
  • Medicamentos
A prescrição de doses altas de hormona tiroidea após tiroidectomia pode evitar a recidiva de alguns tipos de cancro da tiroide por frenar a secreção de TSH (hormona estimulante da tiroide) que por sua vez evita a proliferação das células neoplásicas.
  • Terapêuticas guiadas
Tratamentos antiangiogénese e inibidores da kinase, em desenvolvimento. Como potencial vantagem destaca-se a especificidade da intervenção sobre esse tumor alvo e não sobre todas as células com crescimento rápido como no caso da quimioterapia. Entre os efeitos secundários até agora conhecidos estão o cansaço, perda do apetite e diarreia.



Prognóstico


A sobrevida media a cinco anos de quem tem um cancro da tiroide é de 96,9%, ou seja, temos a possibilidade de curar a maioria dos doentes. Os fatores que mais influenciam esta sobrevida são:

  • Tipo de tumor: os carcinomas papilares têm a sobrevida mais alta (80-95% a 10 anos), seguidos pelos foliculares (65-85% a 10 anos). Os carcinomas medulares e anaplásicos são mais graves e de sobrevida muito mais curta.
  • Idade: a sobrevida diminui a medida que a idade aumenta nos carcinomas papilares e foliculares.
  • Sexo: a mortalidade é discretamente mais elevada no sexo masculino.
  • Estadio local: a mortalidade dos tumores com menos de 2 cm é muito baixa.
  • Existência de metástases à distância: piora o prognóstico.



Conclusão


As doenças malignas da tiroide são pouco frequentes e o seu prognóstico é favorável sendo a sobrevida global muito boa, porque crescem muito lentamente e a remoção é habitualmente eficaz.
O principal repto nos nossos dias é a adequação do tratamento à agressividade de cada cancro em particular. Nem todos os cancros precisam do mesmo tratamento tão invasivo e conseguir personalizar as diferentes opções a cada caso vai evitar efeitos adversos e sequelas futuras em pessoas que apesar da sua doença terão provavelmente muitos anos de vida à sua frente.

Referências recomendadas



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