Mordeduras de animais domésticos

Autor: Alexandra Rafael; Miguel Gouveia

Última atualização: 2018/04/03

Palavras-chave: Mordedura animal, Mordedura humana, Infeção



Resumo


Portugal é o 12º país europeu com maior número de animais domésticos e eles fazem cada vez mais parte das famílias portuguesas. Desta interação podem surgir problemas como as mordeduras, um dos doze principais acidentes responsáveis por lesões em seres humanos.
Cada animal tem um perfil de vítima típico, local mais comum de infeção e agentes infeciosos mais provavelmente envolvidos. É fundamental conhecer bem as características do animal para uma abordagem adequada. As particularidades do doente são também importantes uma vez que há pessoas mais suscetíveis a complicações.
A infeção é a complicação mais comum da mordedura, no entanto não acontece em todas as situações. Quando existir lesão, esta deve ser avaliada por um médico, pode ser necessário antibiótico e existem doenças como raiva e tétano que é necessário considerar.
Estes acidentes podem ser evitados. A prevenção passa maioritariamente pelo por treino do animal, educação de crianças e jovens sobre o contacto com animais e por leis de controlo animal.




Mordeduras de animais domésticos


Portugal é o 12º país com maior número de animais domésticos na Europa, cerca de 6,2 milhões. Os cães são os animais preferidos (38%). Seguem-se os gatos (20%); pássaros (9%); peixes e outros (4%).

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Verifica-se uma crescente importância dos animais de estimação como animais de companhia, coincidente com o aumento do número de pessoais idosas e jovens a viverem sozinhas. Atualmente existem mais cães e gatos do que crianças nas famílias portuguesas, sendo muitas vezes tratados como membros integrantes da família. São ainda importantes na saúde, como guias de pessoas invisuais ou mesmo ajudas no tratamento de doenças como a depressão.
O benefício que a relação animal/Homem pode trazer é imenso, no entanto, podem surgir problemas como as mordeduras.
As mordeduras são uma das doze causas mais comuns de acidentes em crianças/jovens, responsáveis por lesões em seres humanos. Até cerca de 50% das crianças terão sido mordidas por um cão ao longo da vida.

Fatores de risco


Os cães são responsáveis pela maioria destes acidentes. Há fatores de risco para as mordeduras relacionados com a pessoa (crianças em idade escolar, por falta de perceção de perigo, e do sexo masculino) e relacionados com o animal (raça do cão, e cão do sexo masculino). Em 70 % dos casos as pessoas são mordidas pelos seus próprios animais de estimação, metade sem qualquer provocação.
Cada animal tem um perfil de vítima, local de infeção e agentes mais comuns:

  • Cães: afetam preferencialmente crianças do sexo masculino, na cabeça e pescoço;
  • Gatos: mulheres adultas, nas mãos.
  • Roedores e pássaros poderão transmitir doenças por mordedura mas é pouco frequente esta via de transmissão.


Complicações


A maioria das mordeduras são leves e a sua complicação mais comum é infeção. A ferida demora cerca de 12 horas até demonstrar sinais de infeção (febre, rubor, edema, drenagem purulenta).
Os microrganismos responsáveis têm origem na boca do animal. A infeção geralmente ocorre nas camadas superficiais da pele, contudo, pode formar um abcesso, atingir articulações e osso.
Têm maior probabilidade de complicar com infeção as lesões: causadas por gato; esmagamento ou punctiformes; nas mãos, extremidades inferiores, articulações, tendões, ligamentos ou próteses; pessoas imunodeprimidas.

Abordagem


Para um tratamento correto é fundamental ter em atenção:

  • o animal – espécie, estado de vacinação;
  • a pessoa atingida – antecedentes médicos, estado de vacinação;
  • o ataque – severidade da mordedura, como ocorreu.

A abordagem inicial passa por:

  • Se houver hemorragia, pará-la aplicando pressão com um pano limpo;
  • Lavagem da ferida com água corrente e sabão (sem soluções iodadas ou antibióticos para evitar maior irritação dos tecidos);
  • Antibióticos nem sempre estão indicados: quando necessário, serão prescritos pelo médico;
  • Suturar a lesão poderá também não ser indicado por aumento do risco de infeção.

Podem ser necessários exames imagiológicos para excluir corpos estranhos (dentes em cães e gatos mais velhos por maior probabilidade de doença periodontal), lesões de vasos, articulações ou osso.
Portugal é considerado um país livre de raiva animal. Contudo, é importante verificar o estado vacinal do animal e da pessoa quanto à raiva e ao tétano. Nas mordeduras humanas, pode ser importante considerar a infeção por VIH (Vírus da imunodeficiência humana) e a Hepatite B.

Prevenção


Ainda não está definida a melhor estratégia para diminuir o número e gravidade das mordeduras por animais domésticos. Algumas medidas preventivas poderão ser úteis:

  • As crianças devem ser ensinadas a:
    • Manter-se afastadas de animais desconhecidos;
    • Contactar com animais apenas sob supervisão de adultos;
    • Nunca incomodar um animal doente, a sofrer, a dormir, a comer, vigiar crias ou pessoas;
    • Adotar posição “encarpado” em caso de ataque.
  • Os donos de animais devem:
    • Treinar corretamente o animal;
    • Habituar o animal desde idade jovem ao convívio com humanos;
    • Garantir visitas regulares ao veterinário;
    • Certificar-se que o animal usa coleira ou peitoral com registo dos dados do dono;
    • Em caso de animal perigoso: afixar aviso da presença de animal perigoso; assegurar que o animal apenas circula na via pública quando acompanhado de maior de 16 anos, com açaimo funcional e trela curta até 1 m comprimento;
  • Educação pública (nomeadamente nas escolas) sobre responsabilidade e prevenção de mordeduras, incluindo informação sobre raças de cão consideradas perigosas: Cão de fila brasileiro; Dogue argentino; Pit bull terrier; Rottweiller; Staffordshire terrier americano; Staffordshire bull terrier; Tosa inu;
  • Fiscalização da aplicação da legislação relativa a animais domésticos.


Conclusão


O dono do animal tem responsabilidade pelo animal e as pessoas ao redor.
A prevenção é importante. Nunca deixe a sua criança sozinha com um cão, mesmo que seja conhecido.

Referências recomendadas





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