Medicamentos para as dores – os perigos dos AINEs

Autor: Vera Costa

Última atualização: 2017/10/27

Palavras-chave: Anti-inflamatórios não esteróides; Polimedicação; Automedicação; Efeitos Colaterais e Reações Adversas Relacionados a Medicamentos; Medicamentos sem prescrição.



Resumo


Os anti-inflamatórios não esteroides são dos medicamentos mais prescritos e consumidos em todo o mundo.
São utilizados principalmente pelo seu efeito analgésico, anti-inflamatório e anti-trombótico, auxiliando no alívio da dor e de outros sintomas característicos do processo inflamatório, tais como o edema, febre e rubor. São facilmente acessíveis, o que leva ao seu consumo mesmo sem prescrição médica.
Contudo, não estão livres de riscos, associando-se a problemas gastrointestinais, cardiovasculares, renais, hematológicos e hepáticos. É importante estar informado. Os idosos são um grupo particularmente vulnerável pelo maior risco que apresentam para efeitos adversos da medicação, pelo maior risco de interações farmacológicas, pela interferência com outras doenças (doença cardiovascular e renal) e por serem maiores consumidores de medicamentos para as dores, sobretudo para as doenças osteoarticulares que apresentam.




Os Anti-inflamatórios


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Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são um grupo terapêutico muito utilizado a nível mundial. Segundo dados do Infarmed, em Portugal verificou-se um consumo de cerca de 10 milhões de embalagens de AINEs por ano entre 2004 e 2008, com uma tendência ligeiramente decrescente ao longo do tempo. O consumo apresenta um padrão de sazonalidade, sendo maior nos meses de inverno, acompanhando a maior prevalência de infeções respiratórias e queixas osteoarticulares.
A comercialização destes medicamentos em determinadas doses é de venda livre, sem necessidade de receita médica, o que aumenta a responsabilidade de quem toma a medicação.

Como atuam?


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A ação dos AINEs consiste na inibição da síntese de prostaglandinas (substância mediadora do processo inflamatório) por meio da inativação de enzimas denominadas ciclo-oxigenases (COXs). Essas isoenzimas são divididas em dois grupos: COX-1 e COX-2. Com isto obtém-se a inibição da dor, da inflamação e da febre.
Nem todos os AINEs inibem de igual forma as enzimas e, podem ser agrupados segundo a seletividade que apresentam em:

  • Convencionais ou tradicionais: (exemplos: ibuprofeno, naproxeno, diclofenac), que apresentam diversos graus de seletividade, mas que inibem ambas as enzimas;
  • Seletivos: os inibidores seletivos da COX 2, que apenas inibem esta enzima (exemplos: celecoxib, etoricoxib)

Para que são utilizados?


Os AINEs são recomendados em situações de inflamação e dor associada. São aconselhados para o alívio da dor em doenças crónicas, como artroses, artrite reumatoide e dor lombar, e em situações agudas, como a pequena cirurgia, intervenções dentárias, dor menstrual, dor generalizada, enxaquecas e gota.
Muitas vezes é possível obter um alívio eficaz da dor através da utilização de outros medicamentos como os opióides ou os adjuvantes analgésicos, evitando muitos dos riscos associados a estes fármacos.

Quais os efeitos adversos?


Dado o seu mecanismo de ação, os AINEs vão atuar um pouco por todos os órgãos e tecidos do corpo, onde podem ajudar a curar os problemas de saúde, mas podem também apresentar efeitos adversos com maior ou menor gravidade.

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Muitas pessoas vão ter um efeito adverso dos medicamentos que tomam. Apesar da maior parte serem problemas sem importância significativa, algumas pessoas apresentam quadros mais complicados com necessidade de assistência médica, inclusivamente em internamento, e podem até ser fatais. Entre os medicamentos mais vezes implicados estão os AINEs. Se juntarmos a aspirina em dose baixa, utilizada como antiagregante plaquetário, este grupo é o principal responsável por admissões hospitalares por eventos adversos devido a medicamentos, representando milhares de doentes e milhões de euros em toda a Europa.

Efeitos gastrointestinais

Os efeitos adversos mais frequentes dos AINEs ocorrem ao nível do sistema gastrointestinal.
Os AINEs inibem a COX 1 presente na mucosa gastrointestinal, resultando numa série de efeitos adversos com diversas gravidades, desde a dor abdominal, diarreia e dispepsia até úlceras, hemorragias gastrointestinais e perfuração. O risco de complicações é maior em pessoas com antecedentes pessoais de úlceras pépticas, hemorragias gastrointestinais, dispepsia ou intolerância; e condições como a idade avançada e o sexo masculino.
Estas pessoas devem evitar o consumo de AINEs.

Efeitos cardiovasculares

A inibição seletiva da COX 2 faz com que haja maior risco de trombose e aumento da pressão arterial, podendo levar a um evento cárdio ou cerebrovascular, como o enfarte ou o AVC. Por isso, os AINEs devem ser utilizados apenas por pessoas com baixo risco cardiovascular, em doses baixas e no menor período de tempo possível para o alívio dos sintomas.

Efeitos renais

Nos doentes com insuficiência renal crónica, insuficiência cardíaca congestiva ou cirrose, os AINEs podem agravar os sintomas e levar ao desenvolvimento de disfunção renal aguda.

Efeitos no sangue

A COX 1 sintetiza o tromboxano A2 que apresenta um efeito pró-trombótico. Por sua vez, a COX 2 sintetiza a prostaciclina que apresenta um efeito anti-trombótico. Os efeitos hematológicos ocorrem pelo desequilíbrio imposto pela seletividade de um fármaco para determinada enzima. Como exemplo, os seletivos da COX 1 podem provocar hemorragias gastrointestinais, e os inibidores seletivos da COX 2 eventos trombóticos como o AVC.

Efeitos sobre o fígado

Os efeitos sobre o fígado são raros, contudo pode ocorrer aumento ligeiro transitório das enzimas hepáticas em 15% dos doentes que tomam AINEs. As pessoas com doença hepática crónica deverão ter especial cuidados na toma dos AINEs e sempre sob controlo médico, pelo risco de agravamento da doença.

Conclusão


Os AINEs são dos medicamentos mais consumidos em todo o mundo.
Contudo, podem desencadear problemas gastrointestinais, cardiovasculares, renais, hematológicos e hepáticos, pelo que as pessoas devem tomar estes medicamentos durante o menor tempo possível para alívio sintomático.

Referências recomendadas



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